Para Patricia Krause, economista da Coface para a América Latina, neste ano haverá pouco espaço para uma aceleração, por causa de paralisações provocadas pelos jogos da Copa do Mundo e as incertezas até que terminem as eleições. A Coface é uma companhia de gerenciamento e soluções de crédito e atende a 135 mil empresas de todos os portes e setores em diversos países. Patricia, que é formada em economia pelo IBMEC-RJ, está na companhia desde abril do ano passado e antes passou pela Euler Hermes, SBCE e General Motors. Nesta entrevista, a economista avalia o cenário do crédito para este ano no Brasil.
Diário do Comércio – Qual a sua projeção para o crescimento do crédito neste ano?
Patricia Krause – Acredito que este ano o crédito deve continuar crescendo menos, mas não muito menos do que o patamar de 14%. O que puxou o aumento do crédito no ano passado foram as operações com recursos direcionados, nas quais destacaram-se as linhas de crédito imobiliário, rural e de investimento em infraestrutura (com recursos do BNDES). Vejo o crédito para infraestrutura acelerado apenas no começo deste ano, por parte das empresas que ganharam leilões de concessão no ano passado. As empresas, de modo geral, devem aguardar a Copa do Mundo e as eleições para fazer investimentos.
DC – No ano passado, o crédito com recursos direcionados cresceu mais. Isso deve se repetir neste ano?
PK – Acredito que o crescimento deve permanecer no mesmo ritmo e não vejo uma alta acelerada. As empresas não devem aumentar investimentos em ano eleitoral. O BNDES, por outro lado, não deve ampliar a oferta de crédito e injetar mais dinheiro na economia por causa das contas públicas. A dívida bruta do País aumentou por causa dos repasses do Tesouro Nacional ao BNDES e não há como aumentar a liquidez, não há espaço. A consequência pode ser o rebaixamento do rating. A ameaça ainda existe.
DC – A inadimplência geral fechou 2013 em 3%, menor patamar da série histórica iniciada em 2011. Isso não pode ajudar a estimular o crédito e o consumo agora?
PK – Apesar da queda da inadimplência, o consumidor está demandando menos crédito porque a renda não cresceu tanto, a taxa de juros está subindo e a inflação diminui o poder de compra. Por isso, não vejo ainda o consumidor tomando recursos para consumo. A dívida que ele carrega hoje é imobiliária.
DC – Com esse perfil de consumidor, qual sua perspectiva para o varejo?
PK – Acredito que o crédito ao consumo deverá evoluir em um ritmo lento. Para o varejo estimo um crescimento de pouco menos de 3% neste ano.
DC – E o cenário para empresas de pequeno e médio portes?
PK – Para elas, o desafio tende a ser maior pois geralmente têm acesso a taxas de juros mais elevadas. Vejo as empresas mais cautelosas ao tomar crédito. Primeiro, porque vão aguardar um cenário menos incerto, ou seja, após a eleição. Outro ponto é que muitas não devem investir muito porque vão ter de parar a produção para os jogos da Copa do Mundo.
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